Pronto, já sei porque é que tenho um armário cheio de t-shirts que nunca uso, uma pilha de livros que nunca vou ler, uma máquina de fazer não-sei-o-quê ao lado do tacho de ferver a água dos noodles, um termómetro em graus Fahrenheit, sapatos que não me servem, lâmpadas que tiram o cheiro dos cigarros (e porque, de vez em quando, compro o Expresso).
Está tudo no cérebro, esse grande mistério.
As descobertas fantásticas devem-se ao livro Buyology, de Martin Lindstrom que, para além de explicar exactamente o que nos leva a preferir um ou outro produto, ainda nos conta dos impactos, positivos ou negativos, que têm em nós as inúmeras formas de publicidade com que somos constantemente bombardeados.
A história mais comovente tem a ver com cigarros.
Imaginem que os avisos que vêm nos pacotes de cigarros nos despertam o desejo de fumar! Pois é, com todas as letras. Lemos «Fumar Mata», mas ao nosso cérebro, que é danadinho para nos pregar partidas engraçadas, o que chega é uma espécie de «Fumar Mata, mas é o ca****».
A explicação está lá toda no tal livro, mas a ideia geral é que a palavra Fumar acaba por ter tanta força no cérebro dos fumadores, que o resto da frase nem lá chega.
Pronto, se calhar a explicação não era nada essa, mas o resto é tudo verdade. E, no fundo, percebe-se bem. Quando alguém nos diz: «Comer um hamburger no McDonald’s» é verdade ou não que pensamos logo em devorar um dito, sem sequer prestar atenção ao resto da frase, que era «é como comer o conteúdo do estômago de um cão»?
Eu pelo menos, sou assim. Aliás, vou um passo mais longe. Quando me dizem: «Não devias beber tanto gin», continuo a ouvir «num copo alto, com gelo e água tónica, ao pôr-do-sol, até acabar a garrafa», muito tempo depois do meu interlocutor já se ter ido embora, provavelmente até depois de já ter chegado a casa.
Este livro tem outras revelações fantásticas, com a vantagem de percebermos, depois de as ler, que afinal já sabíamos mas nunca tínhamos pensado bem nisso. Uma espécie de «ah, claro, pois é», a lembrar as sessões de Trivial Pursuit com os primos no Verão.
Mas para mim, fico-me pelos cigarros. Durante algum tempo, para me revoltar contra os meus amigos não fumadores - que são cada vez mais - costumava riscar o Fumar e escrever Viver, antes do Mata nos meus maços de cigarros. Ou acrescentar simplesmente So What? Isso acabou. Agora sei que é exactamente o Fumar Mata que me dá vontade de fumar. Se fumar não matasse, possivelmente faria outra coisa assim que acordo. Na mesma linha, e a título de exemplo, molhar os dedos no café e enfiar numa tomada.
Fiquei até com vontade de espalhar aqui por casa umas placas com uns avisos: Comer Fruta Mata, Estudar Mata, Acabar os Trabalhos a Tempo Mata, Comer Peixe Pelo Menos Uma Vez Por Semana Mata, Não Usar o Mesmo Pijama Durante Uma Semana Mata, Despejar os Cinzeiros Mata, Deitar Fora Jornais com Dois Meses Mata e etc., para ver se resulta.
Deve resultar.
E tudo isto me fez lembrar de uma lista que fiz com uma amiga, há uns anos, de possíveis avisos para os maços de cigarros. Gostava de ver se passavam nos tais estudos de neuromarketing...
Já dizia o poeta:
- Que queres para a sobremesa?
- Descasca-me um maço de cigarros.
1 comentário:
Tem toda a razão! O único mistério que o livro não desvenda, contudo, é porque é que alguém, e o menino em particular, compra o Expresso.
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