quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ano Morto, Ano Posto

Não sei quanto a vocês, mas para mim este ano passou completamente a voar. Quase que apetece dizer «literalmente a voar», como em «morri literalmente de susto» e «fiquei literalmente com pele de galinha». Parece mesmo que foi ontem que acabou mais uma festa de Natal, seguida de mais uma festa de passagem de ano. Parece tanto que foi ontem, que há certos pormenores que não tenho por seguro terem acontecido este ano ou no passado. Por exemplo, estou aqui a olhar para um ou outro presente que acho que é do ano passado. Como faço anos mesmo no Natal, a confusão é ainda maior.

Mas 2008, com a sua rapidez, foi um ano bom. Lembro-me da vitória do Obama e da crise, que dá muito mais graça às compras extravagantes, e de outras coisas igualmente boas que devem ter acontecido, mas que não me lembro agora (dá-me vontade de escrever «e, para fechar com chave de ouro, a razia à Palestina», mais pelo politicamente incorrecto e pelo penchant que tenho pelos judeus em geral e pelos israelitas em particular; mas isto da net fica gravado em pedra etérea e por isso não escrevo).

E o que é um ano bom? É um daqueles anos em que conseguimos fazer coisas que gostamos de fazer, mesmo que não tivéssemos pensado que gostaríamos de as fazer. E quando fazemos coisas que tínhamos pensado que gostaríamos de fazer. E quando fazemos coisas que achávamos que não éramos capazes de fazer.

É um daqueles anos em que os nossos amigos conseguem fazer coisas que achamos importantes, como ter aquele filho, acabar aquela tese, sair ilesos daquele desastre, conhecer aquela pessoa e outras coisas que eles também acham importante.

É um daqueles anos em que vemos cada vez menos as pessoas de quem gostamos e gostamos cada vez mais delas.

É um daqueles anos em que, apesar de ter passado mais um ano, usamos cada vez menos gravatas.

É um ano em que lemos cada vez mais livros que gostaríamos de ter escrito e escrevemos livros que gostaríamos de ter lido.

É um ano em que ficamos a saber um bocado mais do que no ano anterior, seja que a teoria das três invasões na formação da Grécia é uma patranha, ou que não vale a pena pedir que tirem o tapete do chão depois de sair do banho.

E, se calhar, também pode ser um ano em que chove no Verão, e faz frio na Primavera e se vai à praia no Inverno.

E estes anos passam mesmo depressa, como todas as coisas boas.

Por isso, espero que o ano que começa já amanhã passe tão depressa como este.

Daqui a um ano, já devo estar a dizer que o Obama afinal era um fiasco, que tenho de ir escrever o blog a um cyber porque fiquei sem net, sem PC e sem casa por causa da crise e que, afinal, aquela ideia de dar cabo dos palestinianos foi uma verdadeira mosca no algodão doce.

Do fim deste ano, acho que nada disso interessa, ainda. Estou carregado das coisas boas deste. Se a festa de amanhã for igual à do ano passado, com as mesmas pessoas e sem as mesmas pessoas, isso só vai ajudar à sensação geral de que foi ontem. E não foi?  

Onde é que a menina escondeu a gonorreia?


Com a devida vénia à amiga que me mandou o site, aqui ficam umas sugestões para presentes de Natal (para o próximo ano) ou, melhor ainda, para aquele/a amigo/a que acabou de ser pai/mãe. 
As doenças, e mormente as venéreas, nunca foram tão... lovely! É só ver aqui.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Give Me My Mobile!


Nem de propósito: por falar em agitação de professores, o The New Yorker publica esta semana um artigo sobre avaliação de professores, que vale bem a pena ler.


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Romeo & Juliette


Não dá para não ouvir. Vá, vão já comprar!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Hoje não tenho vontade

Sabiam que é muito mais difícil escrever a segunda entrada num blog do que a primeira? Não sei bem sobre o que hei-de escrever. A crise económica internacional? Dizer mal da Sarah Palin? Contar o almoço da semana passada com um amigo qualquer e inventar uma história engraçada que lhe tenha acontecido para estabelecer um paralelo com um livro/filme/exposição que li/vi/não fui? Mas tenho mesmo de escrever a segunda entrada, senão, nunca vou poder escrever a terceira – que, dizem, é muito mais fácil.

Então ficamos assim. Ou será que não conta? Bom, então vamos fazer uma coisa: vou ali pegar no jornal e dar uma vista de olhos e depois escolho uma notícia e faço um comentário qualquer, pode ser?

Está bem.

Pois nada. Não me apetece mesmo falar de nada. Vou tentar amanhã. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Anda cá, ó vai-te embora

Parece que andam por aí outra vez uns cartazes daqueles que mandam os brasileiros de volta para as praias de Copacabana, os angolanos para as estâncias balneares de Mussulo, os guineenses para as ilhas dos Bijagós e outras sugestões turísticas do género. 

E parece que agora vão ter de tirar os cartazes.

E parece que isto tudo já nem é a primeira vez.  

Fico um bocado com a sensação de ver a Democracia a morder a sua própria cauda. Uma espécie de «posso não concordar com o que dizes, mas luto para que o possas dizer», com a advertência de que os cartazes, como as pilhas que permitem que a Barbie deite bolhinhas pela boca, não vêm incluídas. Ou seja, diz lá o que te apetece, não toques é muito nos pilares fundamentais do sistema. O que não é muito diferente dos outros sistemas todos, ou é?

Nisto da Democracia não valem cá nacionalismos, nem ideias demasiado contrárias ao que é suposto que a maior parte de nós tenha.  

O que me leva à minha primeira dúvida: a democracia é exactamente o quê? A um primeiro olhar, e um bocado à distância, parece-me promover uma certa ditadura da mediocridade. Sem rodeios, somos um país, um mundo, constituído na sua maioria esmagadora, por grandes bichos. Façam este exercício: percam uma manhã da vossa vida a olhar em volta, assim que saem de casa (ou, porque não lá dentro) e a reparar na categoria do bicho. Do bicho que vos põe o cafezinho e o quequezinho no balcão, no bicho que põe o pratinho sujo à vossa frente no balcão, no bicho que deixou o carrinho a tapar o vosso (aventurava-me pelo mundo do autocarro, mas não tenho tempo), e do bicho do gajo que pede a moedinha para estacionar o carro e do que vos roubou o lugar do carro. E do grande bicho que é aquela colega que chega às nove e toma café até ao meio-dia, e ganha o mesmo que vocês e faz metade e consegue usar metade do vosso vocabulário e geralmente mal (e, sinceramente, nem sequer vos reconheço um grande vocabulário, como já devem ter reparado pelo estilo). E alonguem-se mais, só mais um bocadinho e sentem-se lá à frente dos vossos computadores e abram lá a paginazinha do Público ou do Diário de Notícias online e vejam lá a maravilha do bicho. E as coisas maravilhosas que eles dizem, que eles escrevem do que os outros bichos disseram e escreveram. E, a cada dado momento, nessa mole de bichos, pensem baixinho: este/a gajo/a vota! 

Pois vota. Médio, vá, que isso agora cada vez se usa menos. Mas vota. E sabes que mais? Eles votam e os gajos em quem eles votam ganham. E já percebeste porquê? Porque eles são mesmo muitos. E vêm em todas as formas, dos feios aos bonitos, dos loiros aos morenos, dos ricos aos pobrezinhos, dos que sabem fazer a cruz lá boletim e olha lá, aos que estão agora mesmo a acabar o PhD em Harvard (votam pelo correio, acho eu), dos que já os avós emprestavam os sapatos ao Luis XIV quando havia assim uma festa melhorzinha, aos que ainda lhes dói um bocado aquele pau no meio das havaianas. Desde os que nunca saíram de Serpins do Vouga, aos que vão sempre aos saldos a Nova Iorque para levar roupa nova à temporada da Ópera de Viena. O bicho, cá para mim, é aquele que acha que está mesmo bem é assim. (Tenho de abrir aqui um parêntesis para explicar que a minha definição de bicho tem sido amplamente confundida com uma divisão classista baseada em critérios socioeconómicos. É falso [cf. SOUSA TAVARES, Hugo, Não Foi Nada Disso Que eu Disse, Caraças!, Lisboa, Associação de Ideias, 2006, p. 45]. Não negando a sua predominância nas camadas menos favorecidas/instruídas/viajadas/giras, ele há-os aos montes noutros sítios, que deviam ter um bocadinho mais de noção e de responsabilidade. Comovo-me sempre quando vejo alguém que visualmente me faz soltar um «eh pá, ganda bicho» ter uma postura não-bicho, que é essencialmente definida pela noção: «caganda bicho que eu sou! Vou mazé deixar de ser um bicho»). 

Retomemos: se os bichos estão em maioria, são os votos dos bichos que elegem os gajos que mandam nisto (extrapole-se para todas as áreas da sociedade. Sim, quando se entra num hospital ou num tribunal, as hipóteses de ser observado/ter a carta apreendida por um bicho são de cerca de 73%. (Se entrares num táxi, por exemplo, segundo as minhas estatísticas podem chegar até aos 101%). 

Posto isto, resta ainda naqueles em quem se vota. Já temos por seguro que 73% das pessoas em quem se pode votar são bichos. Certo? Errado. Não te esqueças que 99% dos outros 27%: a) não está para se sujar na rebaldaria da política. b) sabe, ao contrário dos políticos, fazer alguma coisa com o seu curso superior c) é bem-sucedido a fazer essa mesma coisa d) não se importa de continuar a viver na Guarda ou em Viseu. Ou seja, ardeu. Já percebeste quanto é que isto dá? (Se não percebeste, começo a recear estar a escrever para um bicho). Pois é. Dá tudo! Todos! São todos uns bichos. Pronto, todos não. Estimo, para além das melhoras, que possam existir 2 a 5% de políticos que não sejam bichos (raramente nos cargos de maior protagonismo).  

Então vá: os bichos votam nos bichos. E os bichos ganham e os bichos ficam contentes. E depois ficam tristes e gritam e deixam de votar. Depois votam outra vez e vão para lá outros bichos.  

E aqueles que não são bichos? Tenho para mim, que não votam, que geralmente jantam às nove da noite e que fazem uma sesta uma hora antes, porque não dá nada de jeito na televisão (é aquilo do telejornal, ou sei lá). Ou cagam nisso tudo e fazem como uma cientista que eu vi no telejornal (eheheh) que adora viver em Portugal e que é respeitadíssima internacionalmente e que faz não sei o quê com um ferro de engomar ao contrário lá na Universidade dela, porque não há verbas para comprar não sei o quê. (Please, não vou entrar no cliché do «pois, mas para os estádios de futebol já há»). É isto que fazem as pessoas que não são bichos, enquanto os bichos vão para a rua gritar que «a gente os professores somos muita mal pagos». Enquanto os que não são bichos, como outros que vi na televisão que vivem no meio de umas couves no fim do mundo e que têm cem filhos, vários deles a tocar em orquestras por aí fora, os bichos continuam a licenciar-se como se estivesse a sair de moda e depois a chorar na tv, que não há mercado de trabalho para Antropologia do Munícipe Urbano. (Aqui era mesmo fixe dizer aquela do proverbial tanque de roupa para lavar). Amigos: desde que me lembro (meados dos anos 80) que todos os anos é a mesma fita. Não sabias que não havia emprego para essa área, ou foi só porque não conseguiste entrar num curso com saída profissional? Já me viram estes bichos? E aquela mulher que passou vinte horas por dia a passar roupa para fora e agora já tem uma empresa, com carrinhas de distribuição e tudo, para levar os seus engomados ao domicílio? E tudo depois de a fábrica de retretes onde trabalhou oitenta anos ter falido? Isto, para mim, é que é não ser um bicho. Bicho são as que ficam à porta da fábrica a chorar e a chamar cabrão ao administrador da RETRETEX. 

Acham que a cientista e o pai dos músicos e a empresária da engomação votam? Claro que não. Quem vota são os outros todos. Para ver se isto muda.  

Eu cá, pelo que ficou acima descrito, não voto.

Outra coisa bem catita é o referendo. Se as eleições têm o inconveniente de ser um bocado como um encontro pela internet (impessoal e uma surpresa) o referendo é a forma mais directa de democracia. E toda a gente grita que se tem de fazer um referendo. Ele é o aborto, ele é... (não me lembro, ok, mas há inúmeras petições na internet a pedir referendos por isto e aquilo). E depois, lá se faz o referendo e pimba! Foste lá tu votar? Assim foram eles. Está bem, está certo.

Seguem-me ainda? Os bichos votam para escolher os bichos mas a maior parte dos bichos nem sequer quer saber disso para nada.  

Mas o sistema, aparentemente, não levanta dúvidas. É o pior, com a excepção de todos os outros e assim (ele, por acaso era daquelas excepções da não-bicheza na política). Mas lá os cartazes, isso é para tirar, sefachavor.

Deixem estar os cartazes. Deixem dizer tudo. Não deixem que a liberdade do outro acabe onde começa a liberdade do outro porque vocês nem queiram saber onde começa a liberdade do outro. Mantenham-se fiéis ao vosso princípio e permitam a multiplicidade de opiniões. Pela parte dos imigrantes, acho que mais cartaz menos cartaz, não lhes deve fazer muito mais mossa na forma arrogante e exploratória e mesquinha com que são, na maior parte das vezes, tratados.

Não posso acabar sem dizer, não vá ficar alguma dúvida, que sou absolutamente contra o teor desses cartazes (aliás, de cartazes em geral. A palavra cartaz entra-me nos nervos). Pelo meu estudo, o/as estrangeiro/as que por aí andam são bem melhores na cama que o cá tínhamos. E, no fim das contas, o que a gente quer é disso.  E os tipos dos cartazes são o pior dos bichos que cá andam. Ou talvez não. Há muito bicho que concorda com eles, e nem tem a anti-bicheza de pendurar um cartaz.  

Deixem as pessoas escolher democraticamente o seu caminho. Como fizeram na Palestina, o que granjeou a vitória ao Hamas. Não é bonito? Também lá deve haver uns cartazes a mandar assim uns gajos para casa.  

Não tenho qualquer proposta para um outro sistema político melhor (se tivesse, não andava a escrever blogues, trabalhava na ONU ou assim, que, para além de ter chic, ainda vem com motorista e eu nem a carta tirei) mas, quando os que não são bichos deixam de querer saber o que se passa à sua volta, algo está podre no reino da... da... olha, da tua avó!

 

A seguir abordaremos o tema: Europa, e então, nunca mais?

I'll be here all week.