terça-feira, 14 de abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A Lebre e a Tartaruga

«Ah, são répteis...». Pois é: são répteis, não. Por exemplo, o Verde, uma tartaruga que vive cá em casa, teve a audácia de me mandar comer a mim os minilagostins secos que lhe dei de almoço. Confesso que, na última vez que fui comprar uma embalagem de comida, reparei, mesmo na prateleira ao lado, numa outra marca, ainda por cima com desenhos muito mais engraçados e bastante mais barata. Não foi sem uns certos remorsos que me decidi a levá-la. E pensei: «É um réptil, é só um réptil, no fundo. Não vai reparar. Não vai dizer: "que merda é esta" enquanto cospe um camarão, nem "nunca mais cá venho" nem se ir embora». 
Pois não. Que seria. Desde então, tenho despejado cuidadosamente o que sobrava da última lata, a medo, tapando o rótulo com a mão, não fosse o diabo tecê-las. Hoje finalmente, acabou-se. E lá peguei na lata nova - aquela que até tem um rótulo mais engraçado - e despejei a dose diária de microgambas na micropiscina do Verde. Ele, que geralmente vem a correr de onde estiver, salta para dentro de água e desata a comer como se estivesse a sair de moda, cheirou, comeu um ou dois, voltou a sair e ficou no meio do chão a olhar para mim, com a cabeça bem levantada e uns olhos que só podiam estar a dizer: «era mais barata, não era, cabrão?». 
Isto dos répteis, afinal, tem muito mais do que encontra o olho. Percebi imediatamente que não se atravessa a grande noite da evolução das espécies sem uma pena, nem um bico, nem orelhas de burro para ter que gramar com marisco corrente. Tem razão, coitado. Amanhã vou lá buscar a outra lata. Mas como também sou torto, hei-de deitá-la toda na piscina. Espero que não se engasgue...

sábado, 11 de abril de 2009

Topless

Há anos que tenho ideia de fazer uma recolha de coisas que se lêem pelas paredes e pelas montras de Lisboa. Acho até que é uma ideia que toda a gente tem há anos. Mas acontece que me esqueço sempre. Há pouco tempo voltei a lembrar-me e, desta vez, peguei no telefone e zás! Tirei uma fotografia. Pode parecer mentira, mas nunca me tinha ocorrido usar o telefone para isso. Cada objecto serve para uma coisa e não gosto nada disto da polivalência. Mas desta vez deu jeito (dá sempre, não é?)
Fui levar uma amiga a fazer um exame que consiste em não dormir durante uma noite inteira, sem beber café nem tomar outros estimulantes e depois chegar às duas da tarde a um consultório com uma televisão aos gritos, deitar-se numa cama desconfortável e dormir enquanto nos fazem um electroencefalograma. 
No caminho, e enquanto puxava a minha amiga pelo braço, para ela não adormecer, vi esta montra que, no fundo, é um elogio à tal polivalência. 
Dou a morada a quem estiver interessado na nova moda (e, já agora, do consultório também).

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Fumar Mata?

Pronto, já sei porque é que tenho um armário cheio de t-shirts que nunca uso, uma pilha de livros que nunca vou ler, uma máquina de fazer não-sei-o-quê ao lado do tacho de ferver a água dos noodles, um termómetro em graus Fahrenheit, sapatos que não me servem, lâmpadas que tiram o cheiro dos cigarros (e porque, de vez em quando, compro o Expresso).  

Está tudo no cérebro, esse grande mistério.  

As descobertas fantásticas devem-se ao livro Buyology, de Martin Lindstrom que, para além de explicar exactamente o que nos leva a preferir um ou outro produto, ainda nos conta dos impactos, positivos ou negativos, que têm em nós as inúmeras formas de publicidade com que somos constantemente bombardeados.  

A história mais comovente tem a ver com cigarros.  

Imaginem que os avisos que vêm nos pacotes de cigarros nos despertam o desejo de fumar! Pois é, com todas as letras. Lemos «Fumar Mata», mas ao nosso cérebro, que é danadinho para nos pregar partidas engraçadas, o que chega é uma espécie de «Fumar Mata, mas é o ca****».  

A explicação está lá toda no tal livro, mas a ideia geral é que a palavra Fumar acaba por ter tanta força no cérebro dos fumadores, que o resto da frase nem lá chega.  

Pronto, se calhar a explicação não era nada essa, mas o resto é tudo verdade. E, no fundo, percebe-se bem. Quando alguém nos diz: «Comer um hamburger no McDonald’s» é verdade ou não que pensamos logo em devorar um dito, sem sequer prestar atenção ao resto da frase, que era «é como comer o conteúdo do estômago de um cão»?

Eu pelo menos, sou assim. Aliás, vou um passo mais longe. Quando me dizem: «Não devias beber tanto gin», continuo a ouvir «num copo alto, com gelo e água tónica, ao pôr-do-sol, até acabar a garrafa», muito tempo depois do meu interlocutor já se ter ido embora, provavelmente até depois de já ter chegado a casa.  

Este livro tem outras revelações fantásticas, com a vantagem de percebermos, depois de as ler, que afinal já sabíamos mas nunca tínhamos pensado bem nisso. Uma espécie de «ah, claro, pois é», a lembrar as sessões de Trivial Pursuit com os primos no Verão.  

Mas para mim, fico-me pelos cigarros. Durante algum tempo, para me revoltar contra os meus amigos não fumadores - que são cada vez mais - costumava riscar o Fumar e escrever Viver, antes do Mata nos meus maços de cigarros. Ou acrescentar simplesmente So What? Isso acabou. Agora sei que é exactamente o Fumar Mata que me dá vontade de fumar. Se fumar não matasse, possivelmente faria outra coisa assim que acordo. Na mesma linha, e a título de exemplo, molhar os dedos no café e enfiar numa tomada.  

Fiquei até com vontade de espalhar aqui por casa umas placas com uns avisos: Comer Fruta Mata, Estudar Mata, Acabar os Trabalhos a Tempo Mata, Comer Peixe Pelo Menos Uma Vez Por Semana Mata, Não Usar o Mesmo Pijama Durante Uma Semana Mata, Despejar os Cinzeiros Mata, Deitar Fora Jornais com Dois Meses Mata e etc., para ver se resulta.  

Deve resultar.  

E tudo isto me fez lembrar de uma lista que fiz com uma amiga, há uns anos, de possíveis avisos para os maços de cigarros. Gostava de ver se passavam nos tais estudos de neuromarketing...

Já dizia o poeta: 

- Que queres para a sobremesa?

- Descasca-me um maço de cigarros.